domingo, 22 de abril de 2012

20/04/2012 - Mesopotâmia e Brasil

Em Perito Moreno folheei um guia sobre a América do Sul, focando na Argentina e no Chile. Uma região da Argentina é chamada de Mesopotâmia. Aquela que aprendemos nos livros de história fica no Oriente Médio, entre os rios Tigres e Eufrates. A da América do Sul fica entre os rios Uruguai e Paraná. Para os viajantes, a mesopotâmia argentina é só dor de cabeça...

Essa região já tentou ser independente da Argentina, em uma "República de Entre-Rios". Hoje a região é fatiada nas províncias Entre-Rios, Corrientes e Missiones. Essa foi a nossa porta de entrada na Argentina e lá constatamos como a polícia argentina funciona nesses estados. Não tivemos outro problema em todos os outros estados em que passamos (Santa Fe, La Pampa, Buenos Aires, Rio Negro, Chubut, Santa Cruz e Neuquen) - pelo contrário, fomos muito bem tratados em todos os lugares. Mas entre nós e Foz do Iguaçu está a Mesopotâmia...

Pensamos em opções para fugir dela, mas complicaria demais a ida para Foz. A logística do lado do Brasil não é das melhores. O jeito era reservar grana para emergências...

Saímos de Santa Fe com uma neblina intensa. Um túnel liga a cidade de Santa Fe com a cidade de Parana, já em Entre-Rios. Nossa passagem pela província seria apenas pela Ruta 127, felizmente. Nessa não tivemos problema, e ficava a esperança de repetir o feito. Passamos por quatro barreiras policiais e fomos parados apenas em uma, que só checou a documentação. Beleza!!! Assim o único problema nessa província foi dirigir em uma estrada tão mal conservada. Entre-Rios parece não fazer parte da Argentina, tudo parece pobre e mal cuidado.

Um estado já foi, só faltam 2. Em Corrientes abandonaríamos a Ruta 127 e entraríamos na Ruta 14, que liga o Sul do Brasil à Buenos Aires. Na intersecção das duas rutas uma grande obra está em andamento, incluindo um viaduto e a duplicação da Ruta 14. A obra criou diversos desvios em rípio, onde precisamos baixar a velocidade. Num dos cruzamentos havia um guarda.

Aqui conheceríamos o "modus operandi" de Corrientes. O guarda checou que a placa era do Brasil e mandou parar. No começo parecia estar preocupado conosco. Perguntou se algum guarda tinha nos perturbado e contentes dissemos que não. Aí ele pediu uma "ayudinha" para construir o prédio do destacamento dele. Apontou para o nada e ficou esperando resposta. Eu disse que estávamos voltando ao Brasil, que não tínhamos mais dinheiro e ele repetiu o pedido a "ayudinha". Entreguei todos os trocados que tinha, provavelmente tinha 10 pesos e saí inconformado com a cara de pau, mas ao mesmo tempo contente por ter gasto tão pouco.

Seguimos pela pista em reforma, com dificuldade para controlar o carro em tanta ondulação no asfalto. Passei batido pelo posto "melhorzinho" na região - onde fizemos a parada no primeiro dia na Argentina - e por isso tivemos que esticar a parada em mais de 150Km. Com isso fizemos a parada na parte da estrada paralela à divisa com o Brasil. Já dava para ver alguns pedaços de terra de nosso país em regiões de mata baixa. O Esso onde paramos aceitava real, os atendentes falavam várias palavras em português e o frentista até limpou os vidros do carro sem a gente precisar pedir ou até fazer por conta. Já nos sentíamos em casa!

Mas ainda faltava terminar de cruzar Corrientes e cruzar Missiones. Fomos parados novamente em Corrientes e a mesma história: o guarda perguntou se algum policial tinha nos incomodado e pediu uma "ayuda" para construir um caixa d'água. Menos 10 pesos, em uma espécie de pedágio informal.

Ao chegar em Missiones a paisagem começou a mudar. Ficou com mais cara de Brasil. A estrada tinha mais curvas e mais subidas e descidas. Havia mata ao longo da rodovia, as cidades ficaram mais movimentadas. O primeiro guarda que nos parou foi cordial e mandou seguir. Até relaxamos...

Quando o GPS apontava pouco mais de 2 horas para a fronteira mais uma guarnição da polícia nos parou. Entregamos os documentos já esperando o "boa viagem" quando o guarda nos informou que tínhamos ultrapassado um veículo em uma faixa contínua. Bom, demoramos um bocado para entender isso. No meio tempo dissemos que não passamos nenhuma faixa "amarilla", que era verdade, mas com os nossos documentos confiscados não tínhamos muito argumento.

A historinha é que havia um guarda na estrada, que nos viu passar em local proibido, bateu um rádio para eles e precisavam aplicar a multa. Tinham até um papel com a placa anotada ao lado do rádio. Quando eles disseram que não seria possível pagar a multa lá, que teríamos que pagar no banco, até achamos que o negócio todo era legítimo.

Aí veio a sacanagem. "Hoje é sexta, vocês vão ter que voltar aqui na segunda para pagar a multa, pois o banco já fechou. Não posso receber aqui pois não tenho boleto. Quando vocês pagarem a multa eu devolvo a carteira de motorista.". Mas meu senhor, não temos como voltar aqui na segunda, moramos longe da fronteira! Aí o guarda foi super legal: bom, vocês podem me deixar os 600 pesos da multa que eu pago para vocês na segunda.

Aí o circo estava montado. Alegamos que estávamos voltando de viagem, que tínhamos pouco dinheiro. Eu puxei tudo que tinha na carteira: 132 pesos e ele disse que precisava no mínimo de 400. Já deu um valor melhor. Disse que iria verificar se tinha mais dinheiro no carro e acabou morrendo 400 pesos na brincadeira. O motorista assinou um papel que dizia que a multa foi paga lá, mas nem nos deram cópia.

A vontade para voltar ao Brasil já era grande. Depois desse fato cresceu mais ainda. A hora passava, a noite vinha, a chuva caia e a vontade aumentava. O final da viagem foi bem complicado pois a estrada era muito sinuosa, com poucos ponto de ultrapassagem. Tudo isso com o cansaço do dia todo na estrada.

Saímos da Ruta 12 e nos dirigimos à Aduana Argentina. Entre nós e o Brasil só tinha uma cabine. O sistema em Foz é bem melhor que nas outras fronteiras que cruzamos. Provavelmente por conta do volume, os papelzinhos foram aposentados, tudo é feito via sistema. Saída liberada, cruzamos a ponte gritando de felicidade por estar de volta à nossa terra! Esses dias foram excelentes, mas aprendemos a querer mais a nossa terra. Encontramos as estradas esburacadas de sempre, o desrespeito ao trânsito de sempre, mas era o nosso ambiente! Até o hotel bem abaixo do esperado foi relevado, pois o pessoal falava português! Bom, pelo menos o pessoal da recepção, todo o resto do pessoal no saguão falava espanhol.

Para fechar o dia precisávamos ir em um bar brasileiro, comer uma porção como só por aqui se faz, regada por uma excelente caipirinha para nos dar as boas-vindas de volta à casa...

sábado, 21 de abril de 2012

19/04/2012 – De Santa Rosa à Santa Fe


Essa viagem exigiu meses de preparação. Além das atrações turísticas, tivemos uma preocupação muito grande com os deslocamentos. As distâncias eram muito grandes e tudo tinha que estar sob controle. Para as paradas em cidades que não incluíam passeios optamos por cidades maiores, pensando na facilidade de serviços, principalmente hotéis.

Essa opção fez com que o trajeto ficasse um pouco desbalanceado. Esse dia teria uma deslocamento pequeno – menos de 800Km – em relação à véspera e ao próximo dia – mais de 1100Km em cada um. Boa oportunidade para escrever o blog e descansar. Bem, descansar ganhou. Por mais que eu quisesse escrever sobre a subida no Villarica, descansar dessa subida era mais urgente.

Foi um dos poucos hotéis onde o café já estava sendo servido quando chegamos. Estômago abastecido, tanque cheio, pneus calibrador com o “inflador de aire” assassino (o sistema retrátil engoliu a mangueira, espero que ninguém precise calibrar o pneu tão cedo), de volta à estrada.

Mesmo em um dia puro de estrada, cada dia tem suas peculiaridades. Na Ruta 5 voltamos a ter plantações em ambos os lados da pista. Também voltamos a ver caminhões com placa do Brasil, numa clara indicação de que estávamos viajando em direção à casa.

Voltamos à Ruta 33 na altura de Tranque Lauquen. Parte do dia de hoje repete parte do terceiro dia de viagem, passando por áreas alagadiças com bastante plantações. Pelo horário paramos em Venado Tuerto ao invés de Tranque Lauquen. Mais uma vez optamos pela maior cidade da região em que estaríamos perto da hora do almoço e nos demos bem.

Venado Tuerto é uma cidade pequena, aparentemente vive da agricultura. Ainda assim tem um centro bem organizado, com muitas lojas. Apesar de tudo fechar para almoço e siesta – como é tradição nas cidades menores da Argentina e do Chile – achamos um bom lugar para almoçar: um pub irlandês. Último almoço na Argentina, nos despedimos dos pratos de carnes generosas, guarnições nem tanto.

O caminho para Santa Fe deveria ser bem rápido, a Ruta 33 era bem tranquila. Bom, o tempo verbal não está correto. A Ruta 33 foi bem tranquila na ida. Mas era um feriado. Numa quinta-feira útil o movimento de caminhões parecia estar a toda. Juntando isso com várias obras de recapeamento a nossa previsão de chegada em Santa Fe furaria em uma hora. Ou até mais, pois os congestionamentos não acabavam até quase 160Km antes de Santa Fe.

Foi quando chegamos à Auto-Pista 1, que liga Rosario à Santa Fe. Na autopista estávamos autorizados a desenvolver até 130Km/h e não encontramos trânsito. Claro que mesmo mantendo essa velocidade vez ou outra uma piscada de farol nos pedia passagem. Apesar de conseguirmos avançar bem, a auto-pista em si decepcionou. Só tem 2 faixas, com bastante ondulação na pista e muito remendo. Foi pouco mais de 1 hora sacolejando a mais de 130Km/h, parando nas 2 praças de pedágio no meio do percurso.

A cidade de Santa Fe nos deu uma impressão bem melhor do que Rosario. Ainda assim não é um centro turístico para onde devamos voltar. Procurar pouco foi difícil. Os hotéis nos lugares mais bonitos pediam valores fora do orçamento esperado para uma boa cama, chuveiro e só. Fomos nos afastando dos lugares mais bonitos em direção ao centro. Ainda assim Santa Fe não é uma cidade mal cuidada. Conseguimos achar um hotel que atendesse todas as restrições (cocheira, Wi-fi no quarto, café da manhã, quarto razoável e um preço bom). Acomodados, partimos para as últimas compras de supermercado em solo argentino. Vai demorar para pegarmos vinhos e alfajores tão baratos nas gôndolas.

18/04/2012 – A travessia de volta

O corpo merecia que o despertador tocasse mais tarde. Mas não dava para levantar depois das 5:00. O Helber e seus pais tinham que chegar em Bariloche por volta das 13:00, para garantir o vôo. Os demais tinham 13 horas de estrada pela frente. Combinamos de sair por volta das 6:00 para evitar problemas na fronteira.

Na vinda descobrimos que a fronteira próxima à Pucón só está aberta das 8:00 às 20:00. Combinamos de sair bem cedo para não corrermos o risco de ter uma fila enorme querendo passar a fronteira. Deu certo! Às 7:30, antes do Sol nascer, estávamos ao lado do vulcão Lanin e atrás de uma van de excursão.

O posto do Chile é bem organizado. Para sair tínhamos um passo a menos: era só dar a saída pessoal e passar pela aduana. Nada de barreira sanitária, do lado chileno. O pessoal separou a van em uma fila e tínhamos uma fila só para nós. Com isso gastamos pouco tempo nos trâmites de saída e fomos para o posto da Argentina.

Já sabíamos da desorganização desse posto e a imagem de 2 ônibus parados do outro lado da fronteira anunciava a demora. O posto da Argentina não tem sequer um espaço diferenciado para quem está entrando e para quem está saindo. Nos aventuramos todos nas filas dos 3 guichês. A demora foi só o tempo da fila. O resto da burocracia já conhecíamos: preencher o papel de entrada, mostrar a carta verde e esperar que tudo seja digitado no sistema. A aduana foi mais rápida ainda: “Traje frutas?”. Não e boa viagem...

Os abraços de despedida foram em Junín de Los Andes. Parte do grupo seguiu para o aeroporto, a outra parte para Neuquén. Ainda tínhamos um trecho de estrada juntos e não poderia ser em outro lugar: a Ruta 40. Nesse trecho ela é única, com uma sucessão de vales amplos e rios largos. Logo alcançamos uma represa enorme e na ruta 237 cada um seguiu para um lado.

Aqui bateu um sentimento de fim de viagem, de retorno para casa. As paisagens não motivavam mais tantas fotos, não haveria lugares tão espetaculares até voltarmos ao Brasil. Mas os olhos dos viajantes procuram por algo especial durante todo o trajeto. A Ruta 237 margeia o Rio Negro e por este pedaço há várias hidrelétricas, com suas grandes represas. O Rio Negro parece ser uma grande barreira para a fauna. Já não víamos os grupos de guanacos, nem tantos animais atropelados nas vias.

Essa é a rota principal entre Buenos Aires e a região de Bariloche. No caminho estava nosso ponto de parada para o almoço: a cidade de Neuquén. É a maior cidade de toda a Patagônia e seria o local do último almoço patagônico. Não resisti e pedi uma “milanesa a la patagônia”. Uma milanesa napolitana com direito à champgon e batas rústicas no lugar das tradicionais batatas fritas.

Escolhemos Foz para entrar no Brasil. Assim logo depois de Neuquén saímos da Ruta 237 e seguimos sentido norte. Estávamos em uma grande savana, com poucos animais e muitas estações de gás e petróleo. O encontro com caminhões tanque era frequente. As distâncias eram enormes no meio do deserto, foram quase 200Km até encontrar o Rio Colorado. Dezessete dias atrás o cruzamos mais próximo ao litoral e com isso entramos na Patagônia. Dessa vez o cruzamos em sentindo inverso, por cima de uma enorme barragem, dando um até breve à essa região única e cativante.

A longa viagem até Santa Rosa ficou ainda mais cansativa e a única diversão antes de chegar lá foi tirar fotos do por do Sol. Vê-se claramente o que a motivação faz com a pessoa. No começo da viagem enfrentamos distâncias similares com muito mais ânimo, comemorando cada tipo de plantação diferente que víamos pela frente. A chegada em uma cidade nova era chance de conhecer uma cidade nova, procurar um barzinho diferente para tomar uma Quilmes ou uma Corona. Santa Rosa seria só pouso, ainda temos muita estrada pela frente.

17/04/2012 - Villarica


Finalmente o grande dia chegou! Pucón foi incluída no roteiro por causa da subida ao vulcão Villarica e esse era o único dia em que teríamos chance. Digo chance porque nem sempre o tempo ajuda. Mas o nosso primeiro contra-tempo não foi o tempo. Ou melhor, foi, mas não o da metereologia.

O Chile não está no mesmo fuso-horário de Brasília ou de Buenos Aires. O horário normal deveria ser uma hora atrasado em relação ao horário de casa. Mas o Chile estendeu o horário de verão até o fim de abril, igualando o horário de todo o nosso percurso. Eu sabia disso, você sabe disso, mas o meu celular não sabia disso.

Ao invés de acordarmos às 5:15, levantamos uma hora depois com transporte combinado para 6:30. Foi uma correria só e alguns procedimentos matinais tiveram que ser cortados, como o café da manhã. Foi tempo de se arrumar, preparar o lanche de trilha e voar para a van.

A operação era apressada, a fim de começar o passeio o mais rápido possível. Logo outras pessoas foram apanhadas e fomos para a agência pegar o restante do equipamento. Percebemos que as agências compartilham o transporte para o vulcão, eu e o Renan ficamos em uma van, o Helber e o Alexandre na outra. O Victor desistiu da empreitada, mais tarde soubemos que por um bom motivo...

Já passava das 7:00 mas ainda estava bem escuro. Parte do lanche da trilha virou café da manhã, já que a trilha seria bem exigente. Chegamos ao início da trilha antes do Sol aparecer. O céu totalmente estrelado em nada lembrava a véspera nublada. E a previsão do tempo era a mesma para os 2 dias!

Aqui tínhamos duas opções: acrescentar uma hora e meia de subida em areia fofa às cinco horas já previstas ou pegar o teleférico pela bagatela de 6.000 pesos chilenos (algo como 30 reais). Preferimos economizar energia nessa hora e fomos pelo teleférico.

Embora tope muitas atividades que envolvem altura, eu e ela não nos damos muito bem, e isso se manifesta em alguns momentos. Foi o caso do teleférico, pela simples ausência de uma trava de segurança. Creio que o pessoal que usa o teleférico para esquiar nos meses mais frios não se incomode nem um pouco com isso, mas isso me rendeu uma dose maior de adrenalina no percurso. No final até estava divertido...

Daqui pra frente não teríamos mais apoio. Estávamos à aproximadamente 1800m e precisávamos chegar aos 2800m do topo. Logo a trilha mostrou o motivo de ser tão desgastante: ela é morro acima o tempo todo. Já fiz algumas subidas de montanha, e em vários casos temos trechos planos (ou quase), às vezes até descidas antes de uma nova subida. O traçado da trilha era sempre íngreme ou muito íngreme.

Por conta disso os guias montam vários pontos de parada. Outro efeito, já previsto, era a de divisão do grupo. Estávamos em 10 pessoas e 3 guias, isso não seria problema.

O primeiro ponto de parada foi em uma estação de teleférico desativada. Ela foi destruída na última erupção do vulcão, na década de 80, e hoje serve apenas como refúgio para os escaladores em caso de mau tempo. Não seria o nosso caso: o céu estava limpo, o Sol já ardia e até o vento constante deu uma trégua. Dia perfeito para a subida!

A próxima parada já foi aos pés do glaciar. Sim, entre nós e o topo do vulcão havia uma geleira. Esse é o ponto mais crítico da subida. Os guias repetiram as instruções de segurança e avisaram que se alguém não estivesse andando com firmeza seria retirado da trilha. O motivo era nobre: a vida. Nessa parte o risco era altíssimo e não tínhamos o direito de errar.

Pegamos mais equipamentos na mochila. Para os pés, os já conhecidos “grampones”. O passeio pela geleira Perito Moreno nos deu familiaridade com eles, ajudou bastante. Para as mãos, um importantíssimo equipamento de segurança: o piolet. O uso correto dos dois era a diferença entre a vida e a morte, e eu não estou exagerando quando digo isso.

Andar com “grampones” exige mudar a passada. Mover as pernas próximas demais pode fazer com que se prendam na sua calça e você caia. Segundo os guias esse é o acidente mais comum. Manter os pés afastados também aumenta a sua base de apoio, diminuindo a chance de queda. O passo tem que ser bem firme para que as garras se fixem bem no gelo. Creiam-me, duas horas de passadas firmes cansam.

O piolet também ajuda no equilíbrio. Ele parece uma picareta pequena e há um único jeito certo de usar. Deve ser mantido sempre na mão mais próxima da parede (na direção do topo), com a ponta virada para trás, e a mão pegando-o firmemente por cima. Como subimos em zigue-zague o piolet é passado de uma mão para outra o tempo todo.

Caso nada disso garanta o seu equilíbrio, só te resta o auto-resgate. E para isso temos que nos preocupar novamente com esses equipamentos. A primeira orientação do guia é para os grampones. Quando caímos temos a tendência natural de usarmos os pés e as mãos para nos segurar. Nesse caso temos que contrariar nosso instinto e levantar os pés. Os “grampones” propiciariam uma parada rápida demais, com risco de quebrar pés, pernas, ou até ser fatal. Esse foi o motivo de uma das fatalidades de um mês e meio antes.

Se não podemos parar com os pés, só as mãos podem ser usadas para parar a queda no gelo. É nisso que a correta posição do piolet faz diferença. Em uma queda ele deve ser pego com ambas as mãos e deve ser fincado fortemente no gelo, o que o fará parar. Depois de parar você pode fincar os grampones e voltar a ficar em pé.

Isso é tão crucial que todos treinam a queda o auto-resgate antes de subir. Já adianto que não vi nenhuma queda em nenhum grupo nas duas horas de subida. Mas a geleira foi cruel com várias pessoas. A caminhada é realmente dura e várias pessoas desistiram nesse ponto. Duas pessoas do nosso grupo e um dos guias ficaram logo no começo. Quem persistiu testou a força de vontade.

Estávamos longe do topo, mas a vista já compensava o esforço. Pucón fica em uma extremidade de um lago quase retangular. A cidade de Villarica, maior e mais antiga, fica no lado oposto. Conforme subíamos novos lagos, cidades, vilas, morros e vulcões eram acrescentados ao visual. As paradas faziam bem para o corpo, sedento por água e descanso, e também para a mente.

O fim do glaciar não era o fim da subida. Ainda faltava mais de uma hora pela frente. Sacamos os grampones, mas o piolet ainda ficou à mão. Não teria mais a função de segurança, mas ajudaria a subir uma trilha feita de pedras soltas. Volta e meia alguém gritava “rocks” ou “rocas”. Aqui o equipamento de segurança mais fundamental é o capacete, embora também não tenha acontecido qualquer ocorrência nesse trecho.

A altitude e o cansaço das horas de subida diminuíam a cadência dos passos. O guia tentava nos incentivar gritando “Vamos Brasil”. Parou com a brincadeira quando respondemos com “Vamos Chile”. O desgaste não escolhia nação.

A chegada ao topo foi suada. Muito suada. Mas a recompensa era grande. Estávamos perto daquela fumaça que víamos de tão longe. Felizmente o vento era constante e pudemos ficar lá por meia hora. Infelizmente não era possível ver o magma, isso acontece só em certas ocasiões.

A vista do entorno também era um prêmio pela subida. Há vários vulcões na região e de lá conseguimos avistar a maioria deles. Inclusive o Lanin. O maciço com mais de 1Km de altura parece tão pequeno à essa distância. Mas fica uma opção para outro passeio na região...

O dia ainda não acabou. Ainda temos a descida, que é tão difícil quanto a subida. Infelizmente não podemos fazer como um aventureiro fez meses antes: saltou de para-glider do topo do vulcão e desceu na praia do lago de Pucón. Sem essa opção voltamos pelo mesmo caminho por onde viemos.

As pedras soltas eram mais cruéis na descida do que na subida. Para subir você precisa de força. Para descer acrescente uma boa dose de atenção. Mas mesmo assim de vez em quando um escorregão era seguido de uma pedra morro abaixo.

O terreno era tão íngreme e instável que eu parecia fazer mais força pra descer do que pra subir, tamanha era a tensão. Foi uma descida vagarosa, com o incentivo do guia “No tengas miedo, se tienes miedo es peor”. Pois é, cá estou eu enfrentando meus medos ao invés de ser escravo deles.

Depois dessa descida o glaciar foi fichinha. Não que eu tenha atingido um novo patamar de caminhada. Mas sim porque a descida era de ski-bunda. Colocamos nossos equipamentos: Mais uma camada impermeável além da calça e um plástico à postos para os locais onde a rampa não escorrega tão bem.

As instruções eram: mantenha o controle friccionando a base do piolet na sua esquerda.Se alguém estiver parado à sua frente ou se houver uma pedra, use o mesmo movimento do auto-resgate para parar.

As 2 horas de subida foram convertidas em minutos escorregando. Já havia uma pista formada, para não pararmos no lugar errado, e com isso todos tomavam o mesmo caminho. Foram várias paradas de emergência, mas ainda assim as trombadas eram inevitáveis. Ainda bem que a mochila ajudava nessa hora. Tivemos duas passagens de vias, uma um pouco mais tensa pois estávamos andando como que na divisão de um telhado: era rampa para os dois lados. Aqui caberia uma corda de segurança, mas segui com o que tinha, sem olhar para baixo.

A última rampa era a mais rápida, mesmo colocando o máximo de freio. Nessa altura já descia bastante água junto com neve e conosco. A brincadeira foi muito legal, valeu a pena! Mas tem seus inconvenientes. A proteção impermeável das polainas e da calça tem seu limite. Com o tempo o gelo venceu essas barreiras e entrou, principalmente, dentro da bota impermeável.

Ao fim do ski-bunda tínhamos uma motivação à mais para andar: aquecer os pés. O caminho passou a ser o mesmo da vinda: cheio de pedras, mas firme. Só não tínhamos o teleférico para descer. Seguimos pelo caminho de areia fofa, com a certeza de que valeu a pena subir pelo teleférico. Esse trecho era como uma grande duna. Para descer conseguíamos amenizar o esforço como que pulando um pouco mais adiante e caindo na areia fofa. Quem já subiu uma duna a pé sabe que o esforço no sentido inverso é bem maior.

Famintos, exaustos, mas ainda vivos voltamos todos para o hotel. A dona Dolores preparou-nos um ótimo almoço de despedida. Apesar da jornada continuar para o Renan, o Alexandre e para mim, o Helber e seus pais voam para Sampa já no dia seguinte. E o Victor nos deixa às 19:30 pois precisa ir à uma cidade na região continuar sua vida jornalística. Foi um fim de tarde de despedida, terminando de por o papo em dia e conversando sobre economia ou política quase como antigamente.

À noite rolou outra despedida, já sem o Victor. Rodamos uma Pucón vazia atrás de algum barzinho com algum movimento. Paramos no bar ao lado do hotel para os últimos pisco sour com palomitas. Não deu para esticar mais que isso, o dia seguinte seria longo...

terça-feira, 17 de abril de 2012

16/04/2012 - Pucón

Mais um dia sem muita agenda. Isso é muito importante em uma viagem tão longa e com tantas atividades desgastantes. Ainda mais que viemos à Pucón para fazer a subida do vulcão Villarica. O céu estava bem nublado, e nessas condições não haveria passeio. Foi nessa subida que há pouco mais de um mês e meio ocorreram 2 acidentes fatais, um deles envolvendo um brasileiro.

Os Campreghers foram resolver o problema da multa em Villarica e eu e o Alexandre ficamos com a missão de verificar os pacotes. Estamos em um apart com cozinha completa e sem café da manhã. A opção do dia foi comer em um restaurante do outro lado da rua do hotel, omelete de um lado da mesa, granola e iogurte da outra.

Diferente do Big Ice, em Pucón várias agências oferecem esse passeio. Optamos por não entrar nelas, mas verificar as que pareciam ser melhores. É verdade que quem vê cara não vê coração, mas se o pessoal não se preocupa nem com a apresentação da agência que podemos esperar do passeio?

Em uma segunda passada verificaríamos preços e demais condições, mas algo apareceu no caminho: o supermercado. Para mim não era novidade, mas para um ávido consumidor de vinho como o Alexandre era: vinho no Chile é muito barato. Ajuda o fato de não pagarmos o frete e da carga tributária ser bem menor. Aliás, a maioria dos produtos é mais barata que no Brasil, claro que não os produtos brasileiros. A 51 ostentava uma plaquinha com o valor de 4000 pesos chilenos, algo como 20 reais.

Voltando aos vinhos, O consumo no Chile é tão grande que algumas marcas conceituadas vendem vinho em embalagem longa vida e em garrafas de um litro e meio. Um exemplo é o vinho da Concha y Toro, cuja garrafa de um litro e meio sai por 2000 pesos. Menos de 10 reais, ou 5 reais por "garrafa", contra os 16 à 20 no Brasil.

Ao levar as compras de volta para o hotel nos encontramos com nossos companheiros. Dessa forma fomos todos juntos às agências. Os pacotes incluem basicamente a mesma coisa - transporte, equipamentos, guias - e a qualidade deve estar bem similar depois dos acidentes. O parque endureceu as regras depois disso.

O que varia é o preço, que pode ir de 30.000 pesos "en efectivo" até mais de 40.000 pesos. Depois de nos informar em 3 agências pudemos nos preparar para conversar com o dono da agência que fica no mesmo prédio do albergue onde o Victor estava hospedado.

Eu gosto de agências associadas aos albergues da juventude. Albergues dependem de reputação para continuar atraindo, principalmente, estrangeiros e as agências que fecham com eles vão na mesma linha. Em geral não é furada. O rapaz ainda conversou bastante com a gente, o que nos deixou bem tranquilos. Falou inclusive sobre o acidente, e no dia seguinte não teríamos um cenário sequer parecido.

Como a prova de equipamento só seria às 20:00, aproveitamos o tempo livre para conhecer um pouco mais de Pucón. Isso ocorreu somente depois do almoço preparado pela Dolores, que embora esteja viajando não perdeu a oportunidade de usar tudo que a cozinha do Apart tinha a oferecer.

Pucón não é uma cidade muito grande, e já circulamos por boa parte dela ao correr pelas agências. Faltou ver o lago. Pucón é muito frequentada no verão, onde vira um balneário, e no inverno, onde é base para estações de esqui. Na meia estação os barcos estão paradas e ele serve mais de passeio à população local.

Só faltava conhecer o cassino! Foram 4.000 (pesos chilenos) perdidos em um cassino pequeno e quase sem movimento por conta da baixa temporada.

A noite não foi esticada. Depois da prova de roupa passamos mais uma vez no mercado, dessa vez para montar o café da manhã e o lanche de trilha. Já havíamos lido que a subida era puxada e o pessoal da agência nos alertou muitas vezes sobre isso. Nada de noitada, mas sim descanso...

15/04/2012 - Mudança para o Chile

Outro dia sem muito compromisso com hora para acordar. O Alexandre ainda estava se recuperando da maratona, e a família Campregher ainda viria de Bariloche. O ponto de encontro seria o Dublin, mas só ao meio-dia.

Carregar o carro com a tralha toda seria uma tarefa fácil, mas aproveitamos para dar uma geral no bagageiro. Depois de sacudir a lona percebemos que a capota estava desmontando. Acho que a Mit não projetou-a para tanto sacolejo. Ainda bem que preparei uma boa caixa de ferramentas. Já disse anteriormente (ao menos na questão do combustível) que a preparação pode ser a diferença entre uma aventura e um desastre.

Carro pronto, coloquei-o na avenida principal da cidade (San Martin, pra variar). Caso nos desencontrássemos no pub o carro seria o ponto de encontro. L200 são raras na Argentina. Tão suja quanto essa, mais rara ainda.

Ainda faltava tempo para a provável chegada dos Campregher. Passava pouco das 11:00, era muita cara de pau ir para o pub nessa hora. Demos uma última volta pela agradabilíssima San Martin de Los Andes, com uma sensação de "até breve". Algo que nos causou certo espanto foi a quantidade de lojas fechadas. Tudo bem que era um Domingo, mas estamos tratando de uma cidade turística em um fim de semana de um grande evento. Várias lojas abriram nesse dia excepcionalmente, mas nem todas.

Quando cansamos de enrolar fomos ao ponto de encontro, tomar Corona's com batata frita. Ambiente super agradável para botar o blog em dia! O pessoal atrasou um pouco, por conta das paradas nos mirantes (merecidas) e uma bateria que deixou-os na mão. Felizmente encontraram quem os ajudasse a empurrar o corsinha clasic e seguiram viagem na esperança que tenha sido um problema pontual, agravado por uma lanterna acesa.

Depois de todos alimentados, seguimos rumo ao Chile. O Google Maps dava 160km de distância em 3 horas e meia. Temia que a estrada fosse ruim, mas já passamos por estradas de rípio com uma previsão similar e fizemos em um tempo menor. O pessoal costuma ser bem conservador com esse tipo de estrada.

Saindo de San Martín de Los Andes passamos por Junín de Los Andes, outra localidade procurada por esportistas, mas sem o mesmo charme de San Martín. Logo chegamos à estrada que nos levaria ao Chile. Um grupo da Germandeira (polícia do exército argentino) fazia o controle do cruzamento. Já aprendemos a não nos preocupar com eles, o problema está em entre-ríos, não na corporação. Uma rápida checagem no porta-malas e o soldado nos indicou "Chile? Siga a la izquierda. Buen Viaje".

A estrada começou asfaltada, como o mapa indicava. Depois de algumas dezenas de curvas vimos o Lanin. Esse é o maior vulcão da região, com o cume a mais de 3800m de altitude (a base está a cerca de 2300m). Essa estrada nos rendeu dezenas de fotos antes e depois de entrarmos no Parque Nacional Lanin. A portaria do parque indicava o fim do asfalto e o começo do rípio. Isso não era problema, o problema foi o carro perder totalmente a potência.

Eu já desconfiava disso. Tanto que parei o carro, liguei o pisca e abri o capô. O atendente da YPF entendia muito de filtro de ar, óleo e diesel, mas subestimou a força do turbo do carro. A mangueira - aquela improvisada - estava totalmente solta. Felizmente não houve nenhum dano e a braçadeira não ficou pelo caminho. Estava tudo lá, só precisávamos reconectar tudo. Mais uma vez saquei a caixa de ferramentas. Infelizmente não tinha uma chave de boca que pudesse apertar a braçadeira, mas ainda o Brasil pensei nesse tipo de problema e comprei um alicate meia-boca no Atacadão.

O Helber reclamou bastante da qualidade do alicate, mas ajudou a colocar o cano do turbo de um jeito descente. Acho que agora ele aguenta chegar ao Brasil, 4000Km depois, onde finalmente seria substituído pelo tubo original. Queria que esse fosse o único problema do dia...

Passei da Argentina para o Chile uma vez, por Mendoza. Já tinha uma certa idéia de como seria o procedimento. No paso Mamuil Malal há um prédio distinto para o trâmite de cada país. No lado Argentino demos a nossa saída bem tranquilamente, os procedimentos são mais burocráticos. O pessoal da Germanderia puxou papo sobre futebol, sul do Brasil (que o pessoal da Argentina conhece bem), e liberaram a papelada rapidamente. Só tínhamos que passar pela Aduana, responder àquelas perguntas sobre o que transportamos, o que compramos, e boa viagem! Tranqüilo...

Depois de uns 2Km chegamos à base do Chile. Aparenta ser melhor organizada e mais bem cuidada. Passamos pelo mesmo processo de dar entrada no país e depois pela aduana respondendo que não tínhamos comprado nada demais. Mas havia um passo extra...

Quem olha com menos atenção pode achar que a máquina de raio-X serve para procurar armas ou drogas. O Chile foi um país isolado durante muitos anos. Esse comentário não é para política ou economia, mas sim para as questões de fauna e flora. Os Andes formam uma barreira natural que deixou o Chile livre de várias pragas e doenças. Um exemplo que aprendi na visita anterior ao Chile é o da uva Carmenere, que morreu no mundo todo por causa de uma praga, menos no Chile.

Assim tiramos todas as malas e mochilas da camionete para passar no raio-X. Metade da bagagem foi selecionada para inspeção manual e não acharam nada demais. Ufa...

Infelizmente o corsinha teve menos sorte. Já no carro começaram uma faxina. Os pais do Helber pegaram uma infinidade de exemplares para levar para o sítio deles, na maior inocência. Mas isso era crime para o Chile, talvez maior do que entrar com drogas no país.

A gota d'água para a fiscalização foi meia dúzia de maçãs, que estavam em um balaio na cidade de Perito Moreno com a placa "Sirva-se a vontade". Isso rendeu quase duas horas de espera para fichamento, emissão de multa, sermão, lágrimas.

Tenho respeito pelo cuidado que o Chile tem com a questão sanitária. Quem viaja sabe que é proibido transitar com tanta coisa, mas transitam mesmo assim, principalmente por aeroportos. Nós mesmo passamos por barreiras assim quando entramos na Patagônia. O que causou espanto foi o rigor do Chile com a questão. Além da destruição dos itens proibidos rendeu uma multa de aproximadamente 500 reais à ser paga no dia seguinte na cidade de Villarica.

Não adiantava insistir na questão, bora tocar pra Pucón. Nada do GPS funcionar (outro que resolveu pifar), mas o caminho era uma reta só, já tinha anotado todas as estradas por onde passaríamos em todos os dias, sem crise. Já estava escuro e continuamos pelo rípio por cerca de 40Km, tudo morro abaixo. O asfalto começou onde o Parque Nacional Villarica terminou. Esse parque é o irmão chileno do parque argentino citado acima.

Chegamos em Pucon bem mais tarde que o previsto, mas felizmente o hotel já estava reservado. E felizmente dessa vez o hotel correspondeu às expectativas. Para aumentar ainda mais o ânimo do pessoal nosso grande amigo Victor já estava nos esperando, para matar saudades. Ele agora vive no Chile, em Viña Del Mar, e se deslocou mais de 800Km para nos encontrar, aproveitando que faria uma cobertura jornalística na região na quarta-feira seguinte.

Quartos ocupados, fomos procurar algum restaurante para terminar a confraternização em uma bela janta. Em 160Km saímos da Argentina e entramos no Chile. Aqui tínhamos uma variedade de cardápio muito maior, fugindo da dobradinha Carne - Pollo, o que agradou a todos. Terminei a noite com um belo salmão, da região, e também matei saudade do Pisco Sour, uma espécie de caipirinha feita com a bebida típica da região, o Pisco. A Conta de 62.000, o que não é problema, já que precisa de uns 210 pesos chilenos pra pagar 1 real.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

14/04/2012 - Férias da viagem

San Martín de Los Andes oferece muitas opções de passeio. Há subidas à montanhas e mirantes, a pé ou de ônibus. O "fly fishing" é bastante praticado na região - várias lojas de artigos de pesca confirmam isso. Há também passeios pelos vários lagos da região.

No entanto aproveitei para tirar um dia de folga na viagem. Os Campreghers ficaram em Bariloche. O Alexandre acordou cedo para enfrentar uma maratona. Eu levantei a tempo de pegar o café do hotel e saí para andar um pouco pela cidade.

O centro de San Martín de los Andes conserva um ar de cidade pequena. Apesar da grande quantidade de pessoas presentes por conta do Patagônia Run a cidade seguia em um ritmo devagar. A rua principal não poderia ter outro nome: San Martín. Além de ser o nome da cidade, San Martín foi o libertador da Argentina e a rua principal de todas as cidades por onde passamos tem esse nome.

A praça San Martín é uma espécie de ponto zero da cidade. No entorno dela, pela própria avenida San Martín e ruas laterais, há várias lojas de equipamentos esportivos, artesanatos e lembranças. O nível de sofisticação dos produtos e das lojas mostram uma cidade bem frequentada. A madeira é presença obrigatória no acabamento da maioria das lojas.

A cidade beira o lago Lácar, que fica no meio de um vale. A combinação da água límpida com as montanhas rendeu boas fotos. Aproveitei para voltar, à pé, ao mirante pelo qual passamos de carro na véspera. Não era o único subindo a estrada. Ela é frequentada por pessoas correndo ou simplesmente caminhando.

Fui ao Dublin pub esperar o Alexandre. Bom ambiente para escrever posts - de lá saíram os posts da grande travessia. Infelizmente houve um desencontro e tive que tomar uma cuba, comer uma porção de fritas e tomar uma Corona grande sozinho.

No fim da tarde deu uma atenção para o carro. O posto YPF da entrada da cidade fechou o conceito de cidade diferenciada. Um padrão de atendimento diferente do que encontramos por toda a Argentina. Tinha até o vale-café, marca dos postos Portal de Santos. Não estou reclamando do atendimento recebido nos demais postos. No entorno de São Paulo estamos acostumados com frentistas se oferecendo para verificar o óleo, limpar o vidro do carro e calibrar os pneus. Por onde passamos a realidade era outra, isso fica por conta do motorista. Temos que nos adaptar ao local por onde passamos, o modo de vida é o deles e não podemos impor o nosso. Mas é uma constatação que uma cidade com um padrão um pouco melhor acaba melhorando os seus serviços naturalmente, como forma de manter o público que a frequenta.

Mais uma vez a falta de L200 na Argentina deu algum trabalho. O mecânico era bom, mas precisou tatear bastante coisa para descobrir como trocar o filtro de óleo e o de combustível. Aproveitei também para trocar o filtro de ar, já que esse posto tinha um estoque muito bom, tinha todos os filtros para a L200!

O ponto de apreensão maior foi quando ele mexeu no turbo, mas aparentemente não causamos novos danos à nada. Duas horas de trato merecido ao carro, que já rodou quase 8000Km nessa viagem.

Para não repetir o Dublin pela terceira vez fomos ao Tío Paco. Ambiente muito bom, servia uma cerveja de trigo produzida na própria Patagônia. Caiu bem com mais um bife de chorizo. E pra fechar a noite aproveitamos a mesa de bilhar da pousada. Bom, serviu só para eu tomar uma lavada do Alexandre. Nunca fui bom nisso...

domingo, 15 de abril de 2012

13/04/2012 - De Bariloche à San Martín de Los Andes

Primeiramente, gostaria de dizer que as impressões abaixo são sobre o CENTRO de Bariloche. Espero não desestimular ninguém a viajar pra cá... A viagem vale a pena, só estejam preparados para se hospedar na cidade ou escolham lugares mais afastados... Vamos à postagem!

Chegamos à Bariloche na véspera, mas devido aos problemas com o meu carro já estava escuro. Ainda assim deu para ver bem a periferia da cidade. "Pô meu, porque a gente veio para São Vicente?", perguntava o Helber ao emparelhar com o meu carro. Que preconceito...

O hotel também não ajudou na primeira impressão da cidade. O King´s já viveu seus tempos de glória, as fotos no site foram muito bem montadas. Pelo preço já daria para desconfiar disso, mas os comentários no decolar.com não desabonavam o hotel. A orientação do pessoal do hotel para não andar além da igreja de noite, pois era perigoso, não ajudou. As cidades tranquilas ficaram para trás. Enfim, para eu e o Alexandre era por uma noite apenas, suave...

Apesar da impressão negativa da cidade na véspera, deixei para firmar a impressão no dia de hoje, o que não ajudou muito. Tenho certeza de que andar paralelo ao lago Nahuel Huapi e ver os cerros ao redor cheio de neve deve ser fantástico! Mas a cidade em si deixa muito a dever. Bariloche é a maior cidade da região, e sofre as mazelas de um crescimento desordenado. Seu centro não tem o glamour que esperávamos. Os prédios se amontoam, com lojas vendendo bugigangas de todo o tipo no meio daquelas preparadas para receber os turistas. Como andamos por lá na hora do almoço, em toda esquina éramos abordados por alguém oferecendo desconto em algum restaurante.

Essa impressão negativa, no entanto, se desfez enquanto nos afastamos do centro. Na véspera entramos na cidade pelo caminho do GPS, que é o mais curto para quem vem do Sul. Nosso destino nos fez sair pelo caminho oficial, o do aeroporto e do povo que vem de carro de Buenos Aires. Esse caminho é bem mais ajeitado que a periferia da véspera, lembrando-me os conjuntos do Singapura em Sampa, que escondem o que restou da favela logo atrás. Não fizemos os passeios oferecidos pela cidade, mas conversei com o Helber e ele me disse que o passeio ao Cerro Catedral leva àquela Bariloche vendida pelos anúncios, com grandes resorts ao redor de lagos fantásticos.

Fomos no caminho oposto ao Cerro Catedral, dando a volta no lago Nahuel Huapi. Esse lago é gigantesco e a estrada é bem antiga, seguindo as curvas do morro. Foi mais de uma hora de contemplação de paisagens deslumbrantes. A estrada finalmente nos levou a Villa la Angostura, um lugar bem simpático, entre as montanhas e o lago Nahuel Huapi. Somente saindo da cidade de Bariloche percebemos o que traz as pessoas à essa região. Minha sugestão para quem viaja para cá é tentar ficar em El Bolsón (onde passamos na véspera), em Bariloche próximo ao Cerro Catedral, em Villa la Angostura ou até em San Martín de Los Andes.

Saindo de Villa la Angostura ainda tínhamos um bom caminho pela frente. Nos distanciamos do lago e entramos no Parque Nacional Lanin. A estrada asfaltada logo se tornou em uma estrada de rípio, mas em ótimas condições. Como a estrada está em um parque, a vegetação é densa e sempre passávamos por riachos ou próximos à outros lagos menores.

Tínhamos uma grande expectativa em relação à San Martin de Los Andes. A estrada passou a contornar o lago Lácar enquanto nos aproximávamos da cidade. A estrada descendente virou um mirante. San Martín era maior do que imaginava, mas ainda assim parecia ser uma cidade pacata, o que foi confirmado enquanto andávamos por suas ruas tranquilas.

Nos acomodamos na Hosteria las Walkirias, uma das melhores hospedagens da viagem, e fomos ao Dublin pub, local onde o Patagonia Run se encerra. San Martin de los Andes entrou no nosso roteiro por conta dessa corrida. O Alexandre ficou na "Trucha" para se preparar para a prova, mas eu pude colocar mais um bife de chorizo na lista, já que o meu Sábado seria livre.

sábado, 14 de abril de 2012

12/04/2012 - A grande travessia (parte 2)

Apesar dos protestos da maioria, tínhamos que começar o dia cedo. Cerca de 900Km nos aguardavam nesse dia. Marcamos o café para as 7:00, antes do Sol nascer nessa região. A noite foi confortável, o desayuno estava ótimo, a chácara era bem agradável, mas precisávamos cair na estrada. Cerca de 120Km separam Perito Moreno de Rio de Mayo e os primeiros 80Km eram de asfalto.

A falta de força nas subidas reforçavam que teria que procurar em Rio de Mayo a ajuda que não encontrei em Perito Moreno. No fim do asfalto chegamos nos 40Km finais em desvios em rípio. Isso equilibrava de novo os 2 carros, o corsa parou de me apertar nas subidas.

Chegamos em Rio de Mayo com pouca quilometragem, mas seria necessário abastecer. O próximo trecho tinha quase 450Km sem muitas cidades no caminho. No posto me indicaram que acharia o filtro de ar no Lubricentro.

Como a L200 não é comum na Argentina, tivemos que abrir o filtro para o "mecânico" comparar o tamanho do  filtro com os que ele tinha em estoque. Nenhum batia. Ofereceu uma limpeza com ar comprimido, que nessa altura do campeonato parecia muito bom.

Na reinstalação do filtro um rombo na espuma de isolação do motor me chamou a atenção, e isso chamou a atenção do nosso "mecânico". Ele percebeu um rasgo no cano do turbo, que explicaria a falta de "fuerza en las subidas" que reclamei. Isso sim era muito mais lógico do que filtro de ar sujo. Motores à diesel são, em geral, bem fracos na aceleração: a característica deles é a força. O turbo veio para resolver esse problema, então a falta dele era um problemão para nós.

Na cidade não acharíamos solução, só em Esquel, nossa próxima parada. Resolvemos arriscar e fazer um remendo no cano do turbo. Um pedaço de borracha e silvertape fizeram parte dessa operação. Ao acelerar o remendo inflou bastante, mas parecia que duraria.

Daqui pra frente só asfalto, e o remendo fez a diferença. Conseguimos progredir bem, aproveitando a "calzada pavimentada" das duas "Rutas Provinciais" que vinham. Mas o remendo não durou muito. Depois de uns 150Km o carro voltou à performance da véspera.

Isso foi um exercício de paciência, nas subidas. Só via aquela fumaça preta pelo retrovisor, graças ao pedal no fundo, e mesmo assim a velocidade só diminuia. A estrada foi generosa, só houve poucas subidas onde o carro chegou a pedir a segunda marcha. Mas ainda assim nos retardou bastante e nos fez gastar bem mais combustível do que o necessário.

Me senti de volta aos tempos do Fiesta 96, motor 1.0 bem fraco, em que tinha que compensar a velocidade nas descidas, para subir embalado. Estava numa situação bem pior, mas a experiência valeu!

Quanto à estrada, a paisagem similar à muito do que vimos tornava-a meio monótona. Quando pesquisamos o roteito ouvi muita gente falar que a Ruta 40 (interior) era muito melhor que a Ruta 3 (litoral). Achei justamente o contrário. A Ruta 3 tem mais trânsito, mas vimos paisagens mais bonitas, muitas vezes com a ajuda do mar. Apesar do movimento da estrada, os grupos de animais (guanacos, choicos - uma espécie de ema -, caranchos negros - o carcará daqui - e cavalos) e as lebres e raposas aparecem muito mais no litoral do que na Ruta 40.

Talvez o problema tenha sido não pararmos pelo caminho. Los antiguos e Cave de Las manos, nos arredores de Perito Moreno, pareciam ter muito a oferecer. Mas sacrificamos esses passeios por mais dias em outros pontos, assim ficamos com uma impressão de que a Ruta 40 foi só mais uma passagem...

Apesar do problema no turbo a chegada à Esquel foi pouco além do tempo previsto. Esquel é uma cidade grande. Ouvi relatos de quem prefira ela à Bariloche, mas no momento estava muito preocupado em resolver o problema do turbo. A cidade era grande, mas não grande o suficiente para ter uma loja da Mitsubishi.

Indicação após indicação corri as lojas procurando algo que pudesse substituir o cano do turbo. Na quarta loja tivemos uma solução! Era uma auto-peças. Não tinham peças mara a L200, mas tinham um cano de turbo um pouco maior que poderia ser adaptado. Seria um remendo de 340 pesos, mas o cano parecia ser até melhor do que o da L200. Perguntei se o atendente poderia instalar, o que fez com muito gosto depois de autorizado pelo dono da loja.

Nessas horas vemos como os motores não são pensados para facilidade de manutenção. Precisamos desmontar 3 peças para poder tirar o cano do turbo. O cano "novo" precisava ser cortado e era mais rígido do que o da L200 - só dava para errar uma vez, já que da peça nova dava pra fazer 2 da L200.

E foi o que houve. O primeiro protótipo ficou muito curto, depois de adaptado. Mas o segundo molde ficou perfeito!!! Tudo montado e testado, estávamos com quase toda a força do motor de volta. Não ficou igual, mas serviu muito bem!

Saímos de Esquel por volta das 17:30. A volta do turbo já animaria, mas a Ruta 40 ganhou novas formas. Subimos bastante e agora estávamos no meio de um belo vale. A paisagem ganhou ares europeus, com muitos pinheiros e eucaliptos. O problema com o carro e o deserto ficaram para trás. Agora era só curtir a estrada e chegar em Bariloche...

11/04/2012 - A grande travessia (parte 1)

Chegamos ao ponto mais crítico da viagem. Teríamos que atravessar três estados em dois dias, mais de 1400Km com poucos pontos de apoio. Boa parte do caminho seria em rípio, pelo deserto.

Estávamos com os 2 carros à meio tanque, mas ainda teríamos duas "estaciones de servicio" e 120Km de asfalto antes do rípio. Ainda em El Chaltén já começamos a ter problemas. O posto estava fechado, e o pessoal do comércio próximo ao posto não sabia se abriria.

Resolvemos tocar para Tres Lagos, fim do asfalto da Ruta 40. Ouvi muito comentário sobre esse posto. Para quem segue pela Ruta de Norte a Sul é como um oásis. Gasolina, lanche, água... Para nós foi um ponto de decisão importante. Não havia nem diesel nem gasolina lá. Que fazer? Arriscar rodar 180Km até Gobernador Gregório ou voltar à El Calafate, abastecer e seguir pelo litoral?

Decidimos abandonar o certo e seguir pelo deserto. Um dos pontos altos da viagem era a travessia da Ruta 40, pelas nossas contas se combustível acabasse seria bem perto da cidade, poderíamos seguir só com um carro e resgatar o outro.

A Argentina parece um grande canteiro de obras, quando você toma como base as estradas. E a Ruta 40 não é exceção. Parece que essa é a última vez que pudemos pegar a estrada de Rípio. Isso acrescentava mais um problema: os desvios nem sempre eram tão bons quanto a estrada em si, que tinha vários trechos fechados para a pavimentação.

Assim seguimos por mais de uma hora e meia, controlando a velocidade para poupar combustível e fazendo vários desvios. Em alguns momentos estávamos na Ruta em si, em outros estávamos em um desvio. De vez em quando a sinalização deixava dúvida e pegávamos um caminho até uma máquina trabalhando. Meia volta e vamos pelo caminho correto.

Gobernador Gregores já estava mapeada. Ficava na metade do caminho do dia, a idéia era parar na saída para a cidade e decidir se seguiríamos ou se iríamos até lá para algum apoio. A possibilidade virou realidade e desviamos 60Km da Ruta em busca de combustível. A RP que nos levava até lá também estava em obras, mas já tinha alguns trechos com asfalto. Isso era bom porque poupava combustível.

O sinal de reserva acendeu com força assim que entrei nessa RP. 60Km, cerca de 8 litros de diesel... Ia dar bem justo, mas bora! Chegamos na cidade no bafo... Foram mais de 72 litros de diesel no tanque da L200 (o nominal é 70 litros, mas sempre encher o cano também).

A diferença entre uma aventura e um desastre está na preparação. Já sabia dessa possibilidade. Já li relato de gente que ficou no caminho por falta de combustível. Sabia que deveria abastecer sempre que visse um posto. E também que deveria levar 20 litros de combustível na caçamba. Estava lá, mas nem precisou ser usado.

Depois de abastecer o carro, fomos nos abastecer. Fomos à um mercado e fizemos um pique-nique no estacionamento dele. Sanduba de presunto cru, suco de laranja (não demos conta de matar os 3 litros da embalagem). Bora voltar pra Ruta!

Pegamos outra RP que também estava em obras. Chegamos a entrar no asfalto indevidamente e passamos "na contra-mão" ao lado de um rolo compressor. Logo voltamos aos desvios da RP. Sempre disse que preferia dirigir em uma estrada ruim do que uma estrada em obras. Essa estrada confirmava meu pensamento.

Chegamos de volta à Ruta 40, um pouco mais ao Norte do que o ponto onde saímos e, surpresa! Nesse ponto estava asfaltada! O asfalto não durou muito, mas percebi outro problema: A L200 estava com um consumo muito alto e também não estava rendendo muito nas subidas. Saímos de um consumo de quase 10Km/l no Brasil, para algo entre 7,5Km/l e 8,5Km/l com o diesel argentino. Pelas minhas contas de cabeça o consumo agora estava perto de 6Km/l.

Seria suficiente para chegar em Perito Moreno, mas a falta de potência me preocupava. Havia também um barulho como que faltasse ar para o motor. Não entendo muito de mecânica, mas logo pensei no filtro de ar. O manual manda trocar com 10.000Km. Rodamos só 7.000Km, mas pegamos muita poeira. Como disse, não entendo disso. Era mais uma esperança de algo simples do que um diagnóstico.

Apesar da falta de potência deixávamos para traz o Corsa Classic que o Helber alugou. Vários fatores contribuíram para isso. O primeiro é que os desvios de rípio ficaram bem piores. O segundo é que o Helber estava no nosso carro, deixou a bucha com o Renan.

Entre Gobernador Gregores e Perito Moreno rodamos quase 300Km e só uma cidade no caminho: Bajo Caracoles. Não precisávamos parar, tocamos para Perito Moreno.

Essa cidade até que é grande, comparada com as cidades dessa região. Conta com 4 hotéis. Mas isso ainda não era suficiente: estavam todos lotados. Fomos até uma pousada e nem precisamos descer. A placa na porta já indicava: completo. Num dos hotéis eu perguntei o porque da lotação e me disseram que muitas empresas estavam na região. Talvez o asfalto (que ainda está a caminho) esteja trazendo progresso à região. Isso é bom, mas naquele momento nos deu mais um problema.

Começamos a procurar vaga nas cabañas. A partir da primeira placa na avenida principal chegamos em uma que estava lotada, que indicou outra, que estava lotada, que indicou a terceira. Essa era nova (tinha um mês), e pela falta de divulgação estava vazia. O preço estava na média, então resolvemos ficar por lá. A opção seria seguir viagem para Rio de Mayo, mas considerando que o grupo estava cansado e lá também poderíamos ter problema com os 2 hotéis da cidade resolvemos ficar.



Apesar da cidade ser um pouco maior, não consegui achar filtro de ar para a L200. Já havia percebido que quase não havia veículos Mitsubishi na Argentina. A Toyota tem supremacia nesse tipo de veículo. Isso era irrelevante até aparecer um problema.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

10/04/2012 – No alto da montanha


Hoje o dia foi separado para a minha modalidade de trilha predileta: a autoguiada. Não que eu tenha algo contra guias – sou um (por formação, não por profissão), e tenho ciência de que eles enriquecem muito a trilha, com informação e segurança. Porém, uma trilha autoguiada é ideal para se explorar o ambiente, para aprender por conta própria, para trabalhar o planejamento e a ação.

El Chaltén é a capital do trekking da Argentina e por essa referência consegue agradar a todos os públicos. Várias agências oferecem trilhas com guia e passeios mais aventureiros, como andar em glaciares. Para os adeptos das trilhas autoguiadas há diversas opções apontadas em folders distribuídos gratuitamente em hotéis e até restaurantes.

O folder mostra um croqui do entorno de El Chaltén, bem como o tamanho e tempo estimado de cada trilha. O nosso destino foi indicado pelo rapaz que nos atendeu na pousada na véspera: Lago de Los Tres.

Não quis perguntar muitos detalhes sobre o caminho, para não gerar expectativas e para poder viver as novidades que viriam. Mas precisávamos do mínimo de informação. Como a previsão da trilha era de 4 horas (somente ida), pudemos nos dar ao luxo de tomar café tarde (8 horas).

Já sabíamos onde a trilha começava e que a sinalização era boa, confirmamos o tempo, preparamos mochila com lanterna, primeiros socorros, agasalho e lanche e seguimos pelas ruas da cidade! Sim, a trilha começa nos limites de El Chaltén: a cidade fica bem no meio da parte Norte do Parque Nacional Los Glaciares. Para toda parte que você olha há uma paisagem digna de um quadro.

Gosto de vários tipos de trilha, no que diz respeito ao ambiente. Cada uma tem seu toque especial. No caso das trilhas de montanha a expectativa fica por conta de vistas de tirar o fôlego.

Para tais paisagens a trilha de montanha te cobra um preço: subidas. Aqui seu físico é testado antes da recompensa. A trilha já começou com uma subida forte. Ainda bem que no começo o ânimo e o corpo descansado falam mais alto. Foi uma subida forte até o primeiro mirante.

Sem saber do que estava por vir, já ficamos felizes de ver o mesmo vale da véspera, com o Rio de Las Vueltas. Depois de meia hora de trilha morro acima já tínhamos uma visão bem melhor. Até esse ponto a trilha corre paralela à estrada, mas nos permitiu ver o que motivou o batismo do rio. Ele corre vagarosamente por dezenas de voltas no meio de um vale com árvores de folhas avermelhadas. No entanto, suas margens amplas revelam que ele transporta muito mais água em alguma época do ano, provavelmente quando o degelo dos picos está no seu ponto máximo.

Mais vinte minutos de caminhada e terminamos essa primeira subida. Paramos em um último mirante do vale do rio das voltas e começamos a nos distanciar da estrada. Logo alcançamos a Laguna Capri. Informaram-nos que havia dois caminhos para o nosso destino. Havia um mais curto, em que iríamos de carro até um ponto da estrada e esse que tomamos, que saia da cidade e acrescentava duas horas ao percurso. Pelo caminho longo ganhamos o mirante e também conhecemos essa bela laguna.

Laguna Capri é o primeiro ponto de acampamento selvagem que conhecemos na região. Um lugar belíssimo, composto por uma vegetação densa em volta de uma grande lagoa refletindo o imponente cerro Fitz Roy, com direito à ampla área de camping selvagem perto de uma prainha. Várias pessoas se contentavam em andar até a Laguna, mas nosso destino era além.

Andamos por aproximadamente uma hora e meia em um terreno menos íngreme. As subidas e descidas eram suaves. Por vezes víamos o vale do Rio das Voltas, mas estávamos nos distanciando dele e nos aproximando do cerro Fitz Roy, que também aparecia esporadicamente. Agora estávamos por dentro de uma vegetação mais baixa. O tempo estava aberto, mas o calor não era intenso. Isso ajudava bastante a caminhada.

Passamos por vários rios com pouca água – mas mais uma vez com margens largas. A estrutura da trilha é muito boa, havia pontes em todos os cruzamentos de rio e a trilha era bem marcada, não havia como se perder.

Na quarta área de camping tínhamos o último ponto de apoio. Banheiro “natural” e ponto para pegar água. A placa já avisava que a trilha à frente era difícil, em terreno instável (leia-se pedras soltas). Não precisamos andar muito para perceber outro detalhe que a placa omitiu: era bem íngreme.

A marcação da trilha continuava impecável. Nesse ponto estávamos andando a mais de 3 horas e meia e a subida estava judiando. Mas tínhamos o objetivo de chegar ao lago e o cansaço era um mero detalhe.

O visual melhorava enquanto subíamos, mas não tínhamos idéia de quanto ainda estava por vir. As paradas ficaram mais frequentes. No começo o motivo era o cansaço. Mas logo a montanha nos deu outro motivo para parar: neve.

Estávamos próximos daqueles pontos brancos que víamos lá debaixo. Mais do que água pura da montanha em estado sólido, logo se tornou brinquedo para crianças crescidas que não tiveram contato com neve antes. Tinha neve a vontade, suficiente para matar a sede (só jogar groselha e virava uma ótima raspadinha), aliviar o calor provocado pela subida íngreme, jogar nos amigos e em um ponto com bastante neve o Helber pode até fazer um “anjo”. Bom, era bastante neve mesmo. Havia pontos onde ela ia até o joelho!

Esses momentos de descontração nos reanimaram para continuar a subida. O último trecho não tinha sinalização, mas nesse ponto já estávamos perto de muito gente com o mesmo destino. Cada um andava em seu próprio ritmo, às vezes passávamos um grupo, às vezes nos passavam. Havia pessoas e grupos de todo tipo. Havia o pessoal mais descolado, caminhantes bem experientes, jovens, pessoas de mais idade, homens, mulheres, adolescentes... Uma verdadeira democracia com o único objetivo de ver o Lago de Los Tres.

À última subida descortinou esse local tão esperado. E tão fantástico. Um lago de águas cristalinas, aos pés do cerro Fitz Roy, cercado por neve. O Sol forte completava o visual, coroando a nossa vitória pessoal de subir tanto. Um visual ímpar – nem palavras e nem fotos conseguirão dar a dimensão desse lugar. Nos demos cerca de vinte minutos para comer algo e contemplar o lago. Não poderíamos nos demorar demais pois o pessoal que ficou (pais do Helber e o Renan) nos esperavam com um almoço caseiro. E certamente estouraríamos a previsão que o Helber deu.

Gastamos quatro horas e quarenta entre a subida as paradas para foto e descanso. Saímos de lá com cinco horas de percurso. A idéia era que a descida seria mais rápida! O trecho mais íngreme agora era o primeiro. Enquanto descíamos vários grupos ainda subiam. Creio que parte deles estava acampado próximo ao lago e outra parte pegou a trilha mais curta. Pela hora se alguém não estava nessas condições chegaria à El Chaltén no escuro...

A descida não chega a ser entediante, mas não é tão espetacular quanto a subida. Agora o objetivo era descer o quanto antes para comer uma bela macarronada. Nessa altura era uma motivação tão grande quanto a lagoa.

Ir morro abaixo era mais fácil, mas as três horas de descida também exigiram seu esforço. Aí um erro de cálculo nos deixou sem água a cerca de uma hora da cidade. Não era grande problema. Até passamos por alguns riachos mas preferimos acelerar a descida e parar em uma das tendas estrategicamente localizadas perto do fim da trilha.

Na rotisseria fomos bem recebidos -  o dono já está acostumado à receber aqueles que chegam sedentos ou famintos. O fato de sermos brasileiros nos rendeu alguma conversa, já que ele conhecia vários que passavam a temporada – alguns por meses – em El Chaltén. Um quadro dava uma provocação da única rivalidade que o povo argentinos têm com os brasileiros: “Pele es el Rey, pero Diós es argentino”.

A refeição foi merecida, bem como o descanso que o sucedeu. Mas não era dia para dormir cedo. Teríamos um longo dia de estrada pela frente, mas nos despedimos de El Chaltén no mesmo bar em que almoçamos na véspera. A cidade tem muitas opções de comércio apesar de ser bem pequena, mas elas só ficam abertas na temporada. A partir de Abril reina a paz nessa cidade de apenas 500 habitantes...

terça-feira, 10 de abril de 2012

09/04/2012 - dos Glaciares para as trilhas

Acordamos tarde porque tínhamos que esperar alguma casa de câmbio abrir. O mega-feriadão na Argentina (sim, as casas de câmbio não abrem em feriados) junto com o horário reduzido para a baixa temporada (das10:00 às 14:00, em geral) nos deram algum transtorno. Mas tudo resolvido. Bora pra estrada.

A região de El Calafate tem centenas de glaciares, de todos os tamanhos. Saímos de lá com destino à El Chalten, capital argentina do trekking. No caminho pegamos um bom trecho da Ruta 40. Esse será um desafio, pois serão quase 600Km, boa parte de rípio. Mas isso é problema para quarta-feira.

O trajeto entre El Calafate e El Chalten é todo asfaltado. Há vários rios, além de belas vistas do Lago Argentino (próximo à El Calafate), Lago Viedma (próximo à El Chalten) e de vários rios pelo caminho. A tentação de parar em todo mirante é grande, mas não temos o dia todo....

Apesar da beleza das águas, o que mais chama a atenção está no céu. Ou próximo dele. Em El Chalten os Andes aparecem com montanhas mais altas, e já as vemos a mais de 100Km da cidade. O maior de todos os cerros é o Fitz Roy, que se destaca com seus mais de 3400 metros próximos de montes "mais baixos". Cada curva da estrada nos dá uma visão difente - melhor - da paisagem de cartão postal.

Mais próximos de El Chalten fizemos questão de parar nos 2 últimos mirantes do caminho. Mais do que fotos, essas paradas nos renderam imagens únicas que ficaram na memória. A combinação é perfeita entre montanha, gelo, bosques, cidade... Há uma grande harmonia em tudo que vemos pelo caminho.

Com o atraso do câmbio e todas essas paradas chegamos tarde na cidade. Mas ainda deu tempo para 2 passeios, após o almoço. O primeiro foi o Chorrillo del Salto, uma cachoeira muito bela. Ela aparenta ter cerca de 20 metros - nem tão alta para o padrão das grandes cachoeiras brasileiras - mas a paisagem ao redor torna o passeio bem interessante.

Prosseguimos pela estrada de rípio até o Lago del desierto. Chegamos já no fim do dia, com os últimos raios de Sol.. Mas ainda conseguimos ver mais um cenário de cartão postal. No lago é possível fazer passeios de barco, o que deve dar uma boa visão do entorno. Já estava tarde para isso, mas de ponto onde paramos ainda pudemos ver uma combinação de morros, glaciares, bosques e o próprio lago com sua água límpida, mas esverdeada.




08/04/2012 - Enfim, o gelo grande

Esse foi um dos dias mais esperados da viagem. Dia de ir em direção ao Parque Nacional Los Glaciares. Café tomado, mochilas carregadas com o lanche do dia, hora de pegar a estrada. A entrada do parque fica à aproximadamente 60Km de El Calafate. O caminho até lá é bem tranquilo, feito em uma Ruta asfaltada e onde pudemos dirigir bem rápido.

Depois da portaria a estrada muda completamente. Ela fica bem travada e exige que se diminua muito a velocidade. As curvas acompanham o Lago Argentino, permitindo uma bela vista dele. Mesmo sem essa sucessão de curvas deveríamos ir devagar para apreciar a paisagem. Logo a geleira Perito Moreno aparece. De longe ela já é surpreendente. O primeiro mirante - do Suspiro - merece o nome.

Paramos no porto do parque e esperamos o grupo do passeio chegar. Apenas nós optamos por ir de carro, dezenas de outras pessoas chegaram no ônibus da "Hielo e Aventura". Rapidamente todos se acomodaram e pudemos ver a geleira mais de perto. O frio intenso ganhava mais força com o vento da região e o vento do barco. Mas ficar no deck valeu o esforço!

O passeio não terminava no barco, claro. Desembarcamos na outra margem e seguimos por cerca de 4Km de trilha beirando o glaciar. Perito Moreno tem em média 80 metros de altura, 4Km de largura e 30Km de comprimento. Estávamos acompanhando uma pequena parte dele, dentro de um belíssimo bosque, com montanhas por todos os lados.

Cada cenário parece um quadro, uma pintura. Ou a figura de um quebra-cabeça de 3000 peças. Não dá pra se cansar de admirar tudo isso! Mas temos mais pela frente. No fim da trilha pegamos a cadeirinha, os grampons, nos agasalhamos bem e fomos para cima da geleira. Enfim, o "Big Ice", passeio tão aguardado!

O dia estava perfeito! Sol entre nuvens, tínhamos uma bela combinação de cores. O glaciar é feito de uma água puríssima e mostra tons de branco e azul. O vento leva ainda alguns sedimentos, que se acumulam no gelo mas não tiram sua beleza.

Passamos 3 horas no glaciar, vendo rios, lagos, pequenas quedas de água, fendas, fraturas. O clima destrói e reconstroi o glaciar todos os dias, meses, anos... Um sistema vivo que se move acompanhando o relevo das montanhas ao redor, que vez ou outra provoca estrondos altíssimos por conta da tensão de blocos que se movem em velocidades diferentes.

Não dá pra descrever em palavras o que vimos, nem tampouco as fotos conseguem mostrar o que vimos. Certo estava o guia, nos apressando quando parávamos tempo demais tirando fotos. Estávamos lá para viver a experiência, não para levar fotos para os outros. Sim, concordo, mas espero que essa amostra possa incentivar alguns...

No retorno provamos um bolo de Páscoa oferecido pela empresa e pegamos o barco de volta. Dessa vez o barco passou mais próximo do glaciar. O lago também estava cheio de icebergs, um visual bem diferente do da ida.

Ainda tínhamos o fim do dia para fazer o passeio a pé. O parque conta com quilômetros de passarelas onde podemos ver o glaciar de vários ângulos. Não é tão maravilhoso quanto andar por sobre o glaciar, mas ainda assim um passeio muito interessante. De alma refeita, voltamos à cidade de El Calafate, agora bem mais tranquila depois do feriadão da Páscoa.

domingo, 8 de abril de 2012

07/04/2012 - Descanso...

Dia light, post curto...
Hoje foi um dia para descansar mesmo. Dia de acordar mais tarde (7:30), e explorar a cidade. Dia de ver as lojinhas e comprar bugigangas para mim e para a patroa. Dia de tentar achar um prato barato em El Calafate. Camiseta curiosa, algo assim: "Fui à El Calafate - a cidade mais cara da Patagônia - e sobrevivi. Esta camiseta estava em promoção. Esses traços lembram bem uma "Campos" da vida.

Mas vale a pena! Depois de gastar parte do dia circulando pela cidade, resolvemos ir ao Glaciarium. Que dúvida! Gastar 80 pesos em um museu sobre a história do gelo no planeta ou gastar 70 pesos para ir no primeiro bar de gelo das américas com Open Bar?

Bom, tínhamos direito à ficar 20 minutos no bar à -8,5 graus e consumir o que conseguíssemos. O bar man lerdo ajudava no lucro do bar, mas a experiência foi muito boa! Melhor ir em um bar desses aqui do que em Sampa, mais a ver...


Ai da tentamos fechar a noite no cassino, tentando pagar a viagem, mas havia o show de algum famoso argentino, a visita não valeria, melhor terminar a noite em uma pizzaria e se preparar para o GRANDE DOMINGO!

sábado, 7 de abril de 2012

06/04/2012 – Mais do que um deslocamento


O objetivo do dia era unicamente chegar em El Calafate. O caminho mais curto entre Puerto San Julian e El Calafate passava por uma estrada de rípio, com previsão de tempo bem alta. Vimos alguns vídeos da estrada, e considerando que estaríamos sozinhos achamos melhor ir pelo asfalto.

Isso pôs Rio Gallegos no roteiro. Esse é o ponto mais ao Sul da viagem – de lá para frente estaremos voltando pra casa. J

A viagem foi mais tranquila que os dias anteriores. O vento deu uma trégua e chegamos em Rio Gallegos bem antes do previsto. A cidade não tinha nada demais, mas mereceu as fotos mais austrais do passeio. Estava cedo demais para um almoço, então depois de uma parada no Café Central nos pomos novamente na estrada.

Logo o vento da Patagônia deu as caras de novo. Mas dessa vez ele não veio sozinho. Enquanto ganhávamos altitude a chuva ficou mais densa. Logo os flocos começaram a se formar no vidro do carro e a paisagem começou a ficar branca.

 No começo fiquei um pouco preocupado com a direção em neve, mas baixar bem a velocidade e ligar o 4x4 ajudou bastante! Aí foi só relaxar, filmar, fotografar e aproveitar a paisagem! Eu já vi flocos caindo do céu em São Joaquim. Mas nem dá pra comparar, aqui tudo ficou branco, começou a acumular na pista e tudo mais! Muito bom!!!

Depois da parada no mirante começamos a descer para EL Calafate. A cidade lembra um pouco Campos de Jordão, mas um pouco mais rústica. Tem menos badalação e mais ruas de rípio. Mas é uma cidade bem agradável! Depois do passeio pelo centro, onde pudemos pegar informações dos passeios e mapear lojas e restaurantes, voltamos para o Hotel para esperar os demais membros da expedição.

Logo o encontro dos 2 grupos foi comemorado com uma boa golada de Jack Daniels. Ótimo para espantar o frio! Para fechar a noite uma boa ceia em um dos restaurantes da cidade. Não era o que queríamos, mas foi o que tinha a fila menor. A cidade está cheia pois conta do feriado...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

05/04/2012 - De volta à estrada


Depois do dia de passeios voltamos aos deslocamentos. Agora miramos as montanhas dos Andes. Mas ainda teremos 2 dias pelo litoral.

Pela falta de grandes cidades, o dia seria divido em 2. Saindo de Trelew o GPS já dava a dica: Siga por 367 quilômetros. Absolutamente nenhuma cidade no caminho. Passamos por 2 postos de combustível, mas fora isso só a companhia do vento incessante.

Dirigir menos de 4 horas seria moleza. Mas não com esse vento... Enfim, nosso grande companheiro tirava a estabilidade do carro e tornava as ultrapassagens desafiadoras. O vento é tanto que dirige-se o tempo todo com o volante levemente inclinado para a direita.

O vento incessante também veio acompanhado da mudança de paisagem. As subidas e descidas continuaram, mas dessa vez vieram acompanhadas de curvas. Planaltos nos davam a visão de grandes planícies em um conjunto que lembra as grandes chapadas. O capim correndo pela paisagem junto com animais soltos pelas margens diferenciavam esse local de todos por onde passamos.

Antes de completarmos esses 367 quilômetros nos encontrávamos à mais de 600 metros de altitude. Agora uma serra de 12 quilômetros de extensão para nos levar ao nível do mar. E à ele propriamente dito. Comodoro Rivadavia – nossa opção de parada – é uma cidade portuária.

Aqui uma dificuldade, dessa vez com o câmbio. A idéia era trocar parte dos reais por pesos. Porém esquecemos que na Argentina a quinta-feira santa também é feriado. Cambio, só segunda...

De volta à estrada, acompanhamos o litoral por algum tempo. Falésias, dunas, praias rochosas – uma combinação e tanto para aliviar o começo do segundo e último trecho do dia. Esse seria um pouco maior, e igualmente sem nenhuma cidade no caminho.

Em uma viagem dessa é bom conhecer o carro, e principalmente controlar o consumo. O Diesel da Argentina rende bem menos que o brasileiro. Existe o Diesel “melhor”, mas a partir do momento que resolvemos testá-lo paramos de encontrar postos com ele. Estávamos preparados, ainda bem.

Ainda durante a tarde chegamos ao nosso destino: Puerto San Julian. A cidade foi escolhida porque seria muito seguir até Rio Gallegos em um dia. Porém, pelo menos para mim, foi uma surpresa agradável.

A cidade é minúscula. Sites indicam que tenha 7000 habitantes. Porém tem uma estrutura muito boa para uma cidade tão pequena, contando com vários hotéis (dos econômicos aos melhores), restaurantes e lojas. Infelizmente parte dessa estrutura estava fechada por conta do fim da temporada patagônica. Precisaríamos ter chegado umas 2 semanas antes.

O forte da cidade é o turismo histórico. Ela está presente em momentos importantes da história desde os desbravadores da América. A cidade foi fundada por Magalhães, enquanto esperava o inverno passar, antes de ir até o Pacífico. Uma réplica da nau com visitação guiada poderia ter explicado tudo isso, se o vento não estivesse forte demais para a visitção. A cidade também conta com um memorial sobre a guerra das malvinas. Até a presidenta (sim, a faixa estava assim, mas em español até pode estar certo) veio aqui nas comemorações dos 30 anos.

 Após o passeio no centro histórico e algumas compras de mantimentos nos trancamos no hotel. Fugimos dos 10 graus às 18:00 e transformamos o quarto em um camping, tomando vinho (e whisky) acompanhando um macarrão.