terça-feira, 17 de abril de 2012

15/04/2012 - Mudança para o Chile

Outro dia sem muito compromisso com hora para acordar. O Alexandre ainda estava se recuperando da maratona, e a família Campregher ainda viria de Bariloche. O ponto de encontro seria o Dublin, mas só ao meio-dia.

Carregar o carro com a tralha toda seria uma tarefa fácil, mas aproveitamos para dar uma geral no bagageiro. Depois de sacudir a lona percebemos que a capota estava desmontando. Acho que a Mit não projetou-a para tanto sacolejo. Ainda bem que preparei uma boa caixa de ferramentas. Já disse anteriormente (ao menos na questão do combustível) que a preparação pode ser a diferença entre uma aventura e um desastre.

Carro pronto, coloquei-o na avenida principal da cidade (San Martin, pra variar). Caso nos desencontrássemos no pub o carro seria o ponto de encontro. L200 são raras na Argentina. Tão suja quanto essa, mais rara ainda.

Ainda faltava tempo para a provável chegada dos Campregher. Passava pouco das 11:00, era muita cara de pau ir para o pub nessa hora. Demos uma última volta pela agradabilíssima San Martin de Los Andes, com uma sensação de "até breve". Algo que nos causou certo espanto foi a quantidade de lojas fechadas. Tudo bem que era um Domingo, mas estamos tratando de uma cidade turística em um fim de semana de um grande evento. Várias lojas abriram nesse dia excepcionalmente, mas nem todas.

Quando cansamos de enrolar fomos ao ponto de encontro, tomar Corona's com batata frita. Ambiente super agradável para botar o blog em dia! O pessoal atrasou um pouco, por conta das paradas nos mirantes (merecidas) e uma bateria que deixou-os na mão. Felizmente encontraram quem os ajudasse a empurrar o corsinha clasic e seguiram viagem na esperança que tenha sido um problema pontual, agravado por uma lanterna acesa.

Depois de todos alimentados, seguimos rumo ao Chile. O Google Maps dava 160km de distância em 3 horas e meia. Temia que a estrada fosse ruim, mas já passamos por estradas de rípio com uma previsão similar e fizemos em um tempo menor. O pessoal costuma ser bem conservador com esse tipo de estrada.

Saindo de San Martín de Los Andes passamos por Junín de Los Andes, outra localidade procurada por esportistas, mas sem o mesmo charme de San Martín. Logo chegamos à estrada que nos levaria ao Chile. Um grupo da Germandeira (polícia do exército argentino) fazia o controle do cruzamento. Já aprendemos a não nos preocupar com eles, o problema está em entre-ríos, não na corporação. Uma rápida checagem no porta-malas e o soldado nos indicou "Chile? Siga a la izquierda. Buen Viaje".

A estrada começou asfaltada, como o mapa indicava. Depois de algumas dezenas de curvas vimos o Lanin. Esse é o maior vulcão da região, com o cume a mais de 3800m de altitude (a base está a cerca de 2300m). Essa estrada nos rendeu dezenas de fotos antes e depois de entrarmos no Parque Nacional Lanin. A portaria do parque indicava o fim do asfalto e o começo do rípio. Isso não era problema, o problema foi o carro perder totalmente a potência.

Eu já desconfiava disso. Tanto que parei o carro, liguei o pisca e abri o capô. O atendente da YPF entendia muito de filtro de ar, óleo e diesel, mas subestimou a força do turbo do carro. A mangueira - aquela improvisada - estava totalmente solta. Felizmente não houve nenhum dano e a braçadeira não ficou pelo caminho. Estava tudo lá, só precisávamos reconectar tudo. Mais uma vez saquei a caixa de ferramentas. Infelizmente não tinha uma chave de boca que pudesse apertar a braçadeira, mas ainda o Brasil pensei nesse tipo de problema e comprei um alicate meia-boca no Atacadão.

O Helber reclamou bastante da qualidade do alicate, mas ajudou a colocar o cano do turbo de um jeito descente. Acho que agora ele aguenta chegar ao Brasil, 4000Km depois, onde finalmente seria substituído pelo tubo original. Queria que esse fosse o único problema do dia...

Passei da Argentina para o Chile uma vez, por Mendoza. Já tinha uma certa idéia de como seria o procedimento. No paso Mamuil Malal há um prédio distinto para o trâmite de cada país. No lado Argentino demos a nossa saída bem tranquilamente, os procedimentos são mais burocráticos. O pessoal da Germanderia puxou papo sobre futebol, sul do Brasil (que o pessoal da Argentina conhece bem), e liberaram a papelada rapidamente. Só tínhamos que passar pela Aduana, responder àquelas perguntas sobre o que transportamos, o que compramos, e boa viagem! Tranqüilo...

Depois de uns 2Km chegamos à base do Chile. Aparenta ser melhor organizada e mais bem cuidada. Passamos pelo mesmo processo de dar entrada no país e depois pela aduana respondendo que não tínhamos comprado nada demais. Mas havia um passo extra...

Quem olha com menos atenção pode achar que a máquina de raio-X serve para procurar armas ou drogas. O Chile foi um país isolado durante muitos anos. Esse comentário não é para política ou economia, mas sim para as questões de fauna e flora. Os Andes formam uma barreira natural que deixou o Chile livre de várias pragas e doenças. Um exemplo que aprendi na visita anterior ao Chile é o da uva Carmenere, que morreu no mundo todo por causa de uma praga, menos no Chile.

Assim tiramos todas as malas e mochilas da camionete para passar no raio-X. Metade da bagagem foi selecionada para inspeção manual e não acharam nada demais. Ufa...

Infelizmente o corsinha teve menos sorte. Já no carro começaram uma faxina. Os pais do Helber pegaram uma infinidade de exemplares para levar para o sítio deles, na maior inocência. Mas isso era crime para o Chile, talvez maior do que entrar com drogas no país.

A gota d'água para a fiscalização foi meia dúzia de maçãs, que estavam em um balaio na cidade de Perito Moreno com a placa "Sirva-se a vontade". Isso rendeu quase duas horas de espera para fichamento, emissão de multa, sermão, lágrimas.

Tenho respeito pelo cuidado que o Chile tem com a questão sanitária. Quem viaja sabe que é proibido transitar com tanta coisa, mas transitam mesmo assim, principalmente por aeroportos. Nós mesmo passamos por barreiras assim quando entramos na Patagônia. O que causou espanto foi o rigor do Chile com a questão. Além da destruição dos itens proibidos rendeu uma multa de aproximadamente 500 reais à ser paga no dia seguinte na cidade de Villarica.

Não adiantava insistir na questão, bora tocar pra Pucón. Nada do GPS funcionar (outro que resolveu pifar), mas o caminho era uma reta só, já tinha anotado todas as estradas por onde passaríamos em todos os dias, sem crise. Já estava escuro e continuamos pelo rípio por cerca de 40Km, tudo morro abaixo. O asfalto começou onde o Parque Nacional Villarica terminou. Esse parque é o irmão chileno do parque argentino citado acima.

Chegamos em Pucon bem mais tarde que o previsto, mas felizmente o hotel já estava reservado. E felizmente dessa vez o hotel correspondeu às expectativas. Para aumentar ainda mais o ânimo do pessoal nosso grande amigo Victor já estava nos esperando, para matar saudades. Ele agora vive no Chile, em Viña Del Mar, e se deslocou mais de 800Km para nos encontrar, aproveitando que faria uma cobertura jornalística na região na quarta-feira seguinte.

Quartos ocupados, fomos procurar algum restaurante para terminar a confraternização em uma bela janta. Em 160Km saímos da Argentina e entramos no Chile. Aqui tínhamos uma variedade de cardápio muito maior, fugindo da dobradinha Carne - Pollo, o que agradou a todos. Terminei a noite com um belo salmão, da região, e também matei saudade do Pisco Sour, uma espécie de caipirinha feita com a bebida típica da região, o Pisco. A Conta de 62.000, o que não é problema, já que precisa de uns 210 pesos chilenos pra pagar 1 real.

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