domingo, 22 de abril de 2012

20/04/2012 - Mesopotâmia e Brasil

Em Perito Moreno folheei um guia sobre a América do Sul, focando na Argentina e no Chile. Uma região da Argentina é chamada de Mesopotâmia. Aquela que aprendemos nos livros de história fica no Oriente Médio, entre os rios Tigres e Eufrates. A da América do Sul fica entre os rios Uruguai e Paraná. Para os viajantes, a mesopotâmia argentina é só dor de cabeça...

Essa região já tentou ser independente da Argentina, em uma "República de Entre-Rios". Hoje a região é fatiada nas províncias Entre-Rios, Corrientes e Missiones. Essa foi a nossa porta de entrada na Argentina e lá constatamos como a polícia argentina funciona nesses estados. Não tivemos outro problema em todos os outros estados em que passamos (Santa Fe, La Pampa, Buenos Aires, Rio Negro, Chubut, Santa Cruz e Neuquen) - pelo contrário, fomos muito bem tratados em todos os lugares. Mas entre nós e Foz do Iguaçu está a Mesopotâmia...

Pensamos em opções para fugir dela, mas complicaria demais a ida para Foz. A logística do lado do Brasil não é das melhores. O jeito era reservar grana para emergências...

Saímos de Santa Fe com uma neblina intensa. Um túnel liga a cidade de Santa Fe com a cidade de Parana, já em Entre-Rios. Nossa passagem pela província seria apenas pela Ruta 127, felizmente. Nessa não tivemos problema, e ficava a esperança de repetir o feito. Passamos por quatro barreiras policiais e fomos parados apenas em uma, que só checou a documentação. Beleza!!! Assim o único problema nessa província foi dirigir em uma estrada tão mal conservada. Entre-Rios parece não fazer parte da Argentina, tudo parece pobre e mal cuidado.

Um estado já foi, só faltam 2. Em Corrientes abandonaríamos a Ruta 127 e entraríamos na Ruta 14, que liga o Sul do Brasil à Buenos Aires. Na intersecção das duas rutas uma grande obra está em andamento, incluindo um viaduto e a duplicação da Ruta 14. A obra criou diversos desvios em rípio, onde precisamos baixar a velocidade. Num dos cruzamentos havia um guarda.

Aqui conheceríamos o "modus operandi" de Corrientes. O guarda checou que a placa era do Brasil e mandou parar. No começo parecia estar preocupado conosco. Perguntou se algum guarda tinha nos perturbado e contentes dissemos que não. Aí ele pediu uma "ayudinha" para construir o prédio do destacamento dele. Apontou para o nada e ficou esperando resposta. Eu disse que estávamos voltando ao Brasil, que não tínhamos mais dinheiro e ele repetiu o pedido a "ayudinha". Entreguei todos os trocados que tinha, provavelmente tinha 10 pesos e saí inconformado com a cara de pau, mas ao mesmo tempo contente por ter gasto tão pouco.

Seguimos pela pista em reforma, com dificuldade para controlar o carro em tanta ondulação no asfalto. Passei batido pelo posto "melhorzinho" na região - onde fizemos a parada no primeiro dia na Argentina - e por isso tivemos que esticar a parada em mais de 150Km. Com isso fizemos a parada na parte da estrada paralela à divisa com o Brasil. Já dava para ver alguns pedaços de terra de nosso país em regiões de mata baixa. O Esso onde paramos aceitava real, os atendentes falavam várias palavras em português e o frentista até limpou os vidros do carro sem a gente precisar pedir ou até fazer por conta. Já nos sentíamos em casa!

Mas ainda faltava terminar de cruzar Corrientes e cruzar Missiones. Fomos parados novamente em Corrientes e a mesma história: o guarda perguntou se algum policial tinha nos incomodado e pediu uma "ayuda" para construir um caixa d'água. Menos 10 pesos, em uma espécie de pedágio informal.

Ao chegar em Missiones a paisagem começou a mudar. Ficou com mais cara de Brasil. A estrada tinha mais curvas e mais subidas e descidas. Havia mata ao longo da rodovia, as cidades ficaram mais movimentadas. O primeiro guarda que nos parou foi cordial e mandou seguir. Até relaxamos...

Quando o GPS apontava pouco mais de 2 horas para a fronteira mais uma guarnição da polícia nos parou. Entregamos os documentos já esperando o "boa viagem" quando o guarda nos informou que tínhamos ultrapassado um veículo em uma faixa contínua. Bom, demoramos um bocado para entender isso. No meio tempo dissemos que não passamos nenhuma faixa "amarilla", que era verdade, mas com os nossos documentos confiscados não tínhamos muito argumento.

A historinha é que havia um guarda na estrada, que nos viu passar em local proibido, bateu um rádio para eles e precisavam aplicar a multa. Tinham até um papel com a placa anotada ao lado do rádio. Quando eles disseram que não seria possível pagar a multa lá, que teríamos que pagar no banco, até achamos que o negócio todo era legítimo.

Aí veio a sacanagem. "Hoje é sexta, vocês vão ter que voltar aqui na segunda para pagar a multa, pois o banco já fechou. Não posso receber aqui pois não tenho boleto. Quando vocês pagarem a multa eu devolvo a carteira de motorista.". Mas meu senhor, não temos como voltar aqui na segunda, moramos longe da fronteira! Aí o guarda foi super legal: bom, vocês podem me deixar os 600 pesos da multa que eu pago para vocês na segunda.

Aí o circo estava montado. Alegamos que estávamos voltando de viagem, que tínhamos pouco dinheiro. Eu puxei tudo que tinha na carteira: 132 pesos e ele disse que precisava no mínimo de 400. Já deu um valor melhor. Disse que iria verificar se tinha mais dinheiro no carro e acabou morrendo 400 pesos na brincadeira. O motorista assinou um papel que dizia que a multa foi paga lá, mas nem nos deram cópia.

A vontade para voltar ao Brasil já era grande. Depois desse fato cresceu mais ainda. A hora passava, a noite vinha, a chuva caia e a vontade aumentava. O final da viagem foi bem complicado pois a estrada era muito sinuosa, com poucos ponto de ultrapassagem. Tudo isso com o cansaço do dia todo na estrada.

Saímos da Ruta 12 e nos dirigimos à Aduana Argentina. Entre nós e o Brasil só tinha uma cabine. O sistema em Foz é bem melhor que nas outras fronteiras que cruzamos. Provavelmente por conta do volume, os papelzinhos foram aposentados, tudo é feito via sistema. Saída liberada, cruzamos a ponte gritando de felicidade por estar de volta à nossa terra! Esses dias foram excelentes, mas aprendemos a querer mais a nossa terra. Encontramos as estradas esburacadas de sempre, o desrespeito ao trânsito de sempre, mas era o nosso ambiente! Até o hotel bem abaixo do esperado foi relevado, pois o pessoal falava português! Bom, pelo menos o pessoal da recepção, todo o resto do pessoal no saguão falava espanhol.

Para fechar o dia precisávamos ir em um bar brasileiro, comer uma porção como só por aqui se faz, regada por uma excelente caipirinha para nos dar as boas-vindas de volta à casa...

Um comentário:

  1. Gostei do seu depoimento, ainda bem que o guarda aliviou o lado de vocês né. Já planejou a próxima viagem? Se for para um lugar frio, que tal escolher suas roupas, botas, luvas e gorro na http://www.tcheinverno.com.br/ ? Lá tem tudo para viagens internacionais, imperdível. Espero que goste da dica.

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